Resenha do Filme A Baleia - com revelações

Publicado em seg 06 março 2023 na categoria Cinema

Aviso de Revelações (Spoilers)

Esta é uma resenha que está cheia de revelações sobre o filme. Se você não gosta de saber nada sobre um filme antes de assistí-lo para de ler este texto agora e volte (se desejar) somente depois de tê-lo assistido. Recomendo fortemente o filme!

Avisos importantes (disclaimers)

O que, você ainda está aqui? Já avisei que esta resenha terá revelações, certo? Este é um filme sobre traumas! Então, tanto na resenha quanto no filme há temas que podem ser gatilhos para muita gente! Não é intenção desta resenha provocar dor ou lembranças ruins para ninguém! Uma obra (o filme e esta resenha) tem sempre várias leituras possíveis. Esta resenha não pretende disputar verdades ou interpretações sobre o filme.

É apenas a minha leitura do mesmo e, eventualmente, os sentimentos que a obra me causou! A arte serve, também, para nos incomodar! Se você não está bem consigo mesma(o/e), se está numa fase ruim, talvez seja aconselhável parar de ler esta resenha agora! Você foi avisada(o/e)!

A Resenha (com revelações)

É um filme doloroso, angustiante, triste e, com fios de esperança! É um filme que adoraria ver a Maria Homem comentar/resenhar! Todas as personagens do filme carregam dores (umas maiores outras menores) e o filme, talvez por uma escolha do roteirista ou do diretor, não aprofunda todas elas... senão teria que virar uma série!

O filme conta a última semana de vida de uma pessoa com obesidade mórbida severa! Não sou médico, nem profissional de saúde, mas aqui, nesta resenha, o termo pessoa com obesidade mórbida NÃO É SINÔNIMO de pessoa com obesidade ou pessoa gorda!

Desculpem o excesso de didatismo, mas é cuidado para não ferir! Reparem que estou sempre me referindo a pessoa! A condição médica ou a "forma física" de uma pessoa não são as características que as definem! Seres humanos são complexos! Reduzir uma personagem (ou uma pessoa) a uma situação médica ou a uma característica é uma simplificação e reducionismo que podem nos privar de enxergar e/ou apreciar o todo!

A obesidade mórbida, de uma maneira bem simplificada, é quando uma pessoa se sabota, consciente ou inconscientemente, por, talvez, uma dor psíquica muito grande! Ela sabota a sua qualidade de vida! Afirmar que é patológico que uma pessoa não consiga cuidar de si mesma, não consiga realizar tarefas que desejaria realizar, que atenta contra a sua própria integridade física, NÃO É uma fala capacitista. Essa inferência é um sofismo que não ajuda em nada uma pessoa que precisa, sim, de ajuda profissional.

No caso particular da personagem do filme, com obesidadde mórbida severa, ela se culpa por dois eventos interligados.

Um destes eventos é o abandono da esposa e da filha! E, de certo modo, a personagem principal tenta se reconectar com esta, que por sua vez também vive seu sofrimento psíquico!

Aparecem, no filme, outras três personagens. Cada uma delas com maior ou menor envolvimento com a personagem principal. E, uma das belezas do filme, é esta arte de revelar e esconder as motivações e dores de cada personagem no filme!

Assim como o título do filme "O Nome da Rosa" não revela a temática do filme (não é um filme sobre rosas ou correlatos), o título do filme, "A baleia", também não é uma metáfora sobre a figura usada em situações de bullying contra pessoas gordas! Esta é, na minha opinião, uma leitura simplista e rasa! O clímax do filme, aquilo que reconecta, duas das personagens do filme, explica o contexto para o nome do filme!

Parafraseando Marx: " Toda ciência seria supérflua, se a essência das coisas coincidisse com as aparências"

O ator Brendan Fraser faz aquilo que se espera de um excelente ator: Representa uma vida que não viveu e uma realidade que não é a sua! Se nos sentimos desconfortáveis com a personagem principal, é porque o ator realizou com sucesso épico a sua tarefa de interpretar!

Como qualquer bom filme, há vários pequenos detalhes aqui e ali, que precisamos ver o filme outras vezes, para acessá-los! E, também, a lente das nossas vivências, pode destacar mais alguns detalhes e ofuscar outros! Essa é uma característica do cinema, desculpem se sou repetitivo, mas cinema é a arte de revelar e esconder ao se contar uma história!

Eu apreciei as falas antireligião, apreciei as personagens complexas (nada dos clichês de mocinhos e bandidos), apreciei a pulsão de vida como instrumento de desgraça e redenção e, sobretudo, me conectei com a tentativa de reconexão de um pai com sua filha!

Possivelmente muitos de nós, que temos a experiência da paternidade, que carregamos culpas de ausências para com nossas filhas(os/es) poderemos nos tocar com o filme! Possivelmente muitas filhas(os/es), ressentidas (os/es) com as ausências de seus pais, poderão ser tocados pelo filme!

Poderia explorar outras possibilidades de conexão do expectador com a estória, mas o ponto central, é que é um filme difícil, angustiante e que pode nos causar, sim, muitos desconfortos, porque todos nós, em maior ou menor grau, nos sentimos culpados ou ressentidos por alguém, algo ou situações em algum momento de nossas vidas.

O que fazer com essas nossas angústias? O filme "A baleia" é sobre isso! Um filme nunca vai, necessariamente, te trazer respostas! Mas, talvez, o filme possa sinalizar que aqueles que alcançam o dom de perdoar (a si mesmos ou a aqueles que os feriram) possam, quem sabe, salvar-se a si mesmos!

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