Reflexões (pessoais) sobre escolhas tecnológicas
Publicado em ter 16 janeiro 2007 na categoria Software Livre, Linux, Tecnologia
Com todo o hype que existe hoje em torno do Ubuntu e dos Softwares Livres ou Softwares de Código Aberto (são paradigmas diferentes mas com muitas interseções!) é natural que mais e mais usuários (do mundo da informática e fora dela) queiram testar, opinar e eventualmente fazer suas escolhas tecnológicas.
Como deveria ser óbvio, escolhas tecnológicas não se baseiam exclusivamente em aspectos técnicos, mas também, em opções pessoais e filosóficas (mesmo que não conscientes!). E, convenhamos, o mundo é menos enfadonho devido a diversidade de preferências e opiniões.
Entretanto, a despeito de acreditar que as pessoas são diferentes, têm necessidades computacionais distintas, orçamentos variados e, sobretudo, gostos diferenciados, senti vontade de escrever minha (extensa!) opinião sobre alguns aspectos que julgo relevantes ao se comparar/analisar/resenhar sistemas operacionais para o Desktop/Usuário Final.
Competências básicas que o usuário deveria ter
Instalação
Considero que o usuário final não tem que saber instalar um sistema operacional, portanto, este item não é um bom parâmetro ao se comparar a usabilidade de um sistema operacional focado no usuário final.
Apesar disso, utilizando como espaço amostral meus parentes próximos (cunhada, irmã, sobrinho, esposa) nenhum deles consiguiu instalar o sistema operacional proprietário mais popular e dois deles conseguiram instalar o Ubuntu (sozinhos!).
Eu fui instalar o Windows XP para a minha cunhada (pois esta foi a opção dela) e precisei de 50 minutos e 6 boots para que a instalação total (reconhecimento de todo o hardware) se completasse. O Kurumin levou 15 minutos! O Ubuntu levou 18 minutos!
Nos três casos o softmodem não é reconhecido pelo instalador, mas existe um cd com o drive do fabricante para windows e drives da comunidade, construídos por engenharia reversa, para Linux!
Moral da História - Hardware não suportado, via de regra, é uma opção/problema do fabricante, não do SISTEMA OPERACIONAL!
Plugar e Funcionar - Plug and "Pray"
Considero que instalar qualquer coisa que não seja plugue e funciona (plug and "pray") não é tarefa para o usuário final! O usuário final médio (provavelmente não é o seu caso, querido leitor!) não lê manual do carro, do dvd, do celular, da calculadora simples de 20 teclas... não me surpreende que ele não leia a documentação básica do seu sistema operacional! Um sistema operacionai com foco no desktop/usuário final médio tem que ter isso em mente.
Quando o fabricante disponibiliza as especificações (e as segue!) o hardware é suportado! Quando o fabricante só disponibiliza, devido a acordos comerciais, para alguns desenvolvedores, somente estes terão suporte 100% eficiente.
Neste caso o usuário, sempre que possível, deveria se certificar antes da compra se o hardware é suportado pelo seu sistema operacional!
É isso que se faz quando se compra uma peça de carro, de aparelho de som, de calculadora simples de 20 teclas, por que deveria ser diferente com computadores? Ou alguém acha estranho o fato de um cabo de embreagem que funciona num Fiat não funcionar no wolkswagen, por exemplo?
Não custa dizer que o fato de não ser reconhecido automagicamente, signfica apenas que será necessário ler alguma documentação e editar configurações!
Alguns mitos, neste caso, precisam ser desfeitos:
Mito 1: Ler documentação para fazer algo funcionar é demérito para um sistema operacional!
Eu penso que tudo que foge de um padrão esperado deve ter intervenção do usuário, para isso que existe a documentação oficial do sistema! (Isso funciona para tocador de DVD, televisão, etc... e não seria diferente para um sistema operacional!). Aqui se destaca um aspecto do paradigma FLOSS (Free Software or Open Source): Sistemas abertos e com comunidades de usuários tem mais documentação disponível do que sistemas proprietários! E aqui não vai nenhum juízo de valor, apenas uma constatação experimental!
Mito 2: "Editar configuração no linux é sempre via linha de comando"!
Geralmente quem diz isto, repete de alguém, pois não editou uma arquivo de configuração recentemente! Arquivos de configuração são arquivos de texto puro, logo você pode usar editores gráficos com gedit, kedit, etc...
Mesmo comandos do shell, podem ser feitos numa interface gráfica!
[/Uma analogia didática]
No que diz respeito a sistemas operacionais focados no desktop/usuário final, existe algo parecido. Você pode usar sem querer saber nada sobre configuração ou funcionamento debaixo do "capot". E é isso que os desenvolvedores do sistema operacional planejam!
Mas acredite, problemas acontecem, e você será muito mais produtivo se, se der ao trabalho de ler a documentação básica. 90% dos "problemas" de usuários finais se resolvem com a documentação básica.
Eu comentei que 90% dos problemas se resolvem lendo a documentação básica do sistema! Embora eu reconheça que estes 10% possam, dentro de contextos tecnológicos específicos, fazer toda a diferença!
Diversidade x Padronização
Há aqueles que acreditam que restringir as opções é o melhor caminho para minimizar problemas com o usuário final, e de lambuja, aumentar a participação no mercado. Estes consideram ruim que um sistema tenha várias opções de programas para se fazer a mesma coisa.
Pessoalmente eu adoro a diversidade, pois uma mesma pessoa com o mesmo gosto pode ter necessidades diferentes. Em se tratando de computadores posso ter duas máquinas com configurações distintas e, portanto, programas diferentes com focos diferentes, mais que se propõe a fazer as mesmas coisas são bastante desejados!
Há sistemas que fazem isto via hardware (Apple). Restringir o hardware reduz as incompatibiliades e tornam o sistema como um todo mais estável. Há outros que fazem isto via acordos comerciais desleiais (muitos fabricantes não vendem seus equipamentos com outro sistema operacional previamente instalado por força de contratos com a Microsoft!).
Sistemas operacionais baseados no paradigma (FLOSS) tendem a privilegiar a diversidade, inclusive suportando nativamente a convivência com outros Sistemas Operacionais na mesma máquina!
Entretanto, Não acho que a questão seja a escolha entre diversidade ou padronização. A questão é que alguns aspectos merecem padronizações e outros devem privilegiar a diversidade.
Onde a Padronização é Interessante
Interconexão exige padrões! Arquivos e protocolos de troca devem seguir padrões, tanto quanto possível abertos, para garantir o máximo de compatibilidade. Exemplos: TCP-IP, GSM, ODT, PDF, etc...
Onde a Diversidade é interessante
Interfaces com o usuário devem ser flexíveis para garantir a diversidade! Diversidade de idioma, de recursos, de opções, de maneiras de se fazer a mesma coisa, de gosto pessoal, etc... Aqui, os aspectos filosóficos são fundamentais na escolha do paradigma tecnológico! Sistema proprietários, via de regra, costumam impor uma única maneira de se fazer as coisas, um único formato de arquivo, uma única interface, etc...
Facilidade x Segurança
Em geral o usuário final quer gemada sem quebrar os ovos. Quer segurança total, com máxima praticidade. E uma coisa sempre vai sacrificar a outra! Quer instalar qualquer coisa em qualquer lugar? Seu sistema estará com a segurança comprometida. Quer garantias de que cagadas não serão cometidas? 85 perguntas com exigências de senhas diferentes serão pedidas ;-) Simples assim!
Políticas de privilégios diferenciados para usuários é a solução!
Programas livres x Programas proprietários
Sou da opinião que a instalação padrão de sistemas livres (FLOSS) deve vir sem nada proprietário instalado! Com a opção de instalação pelo usuário, se assim desejar, de modo simples e transparente! Esta é a opção no Ubuntu ( do Debian, etc...) e com uma lida na documentação básica usando-se somente interface gráfica - synaptic - (o paraíso do usuário final!) é possível instalar suporte a mp3, dvix, flash, java, etc...)
Não há motivo para se omitir do usuário final que existem modelos de desenvolvimento diferentes, com suas vantagens e desvantagens!
Por exemplo, o sistema proprietário mais utilizado precisou de 20 anos para se tornar amigavel e razoavelemte estável (Postulado 1: Para o usuário final médio, nada será 100% estável. Ele sempre vai desligar o micro no botão, clicar naquele link que instala 25 cavalos de tróia, e atualizar o anti-vírus uma vez por ano!), enquanto modelos abertos obtiveram mais e melhor em menos tempo. Por que tem mais gente olhando o código!
Suporte x Preço
Existe um mito de que software livre não tem suporte regular ou profissional. É uma inverdade que por ser contada várias vezes pode parecer verdade! Minha primeira instalação de linux como "sistema de produção" foi o Mandrake (atual Mandriva) há uns 4 anos atrás.
E já naquela época existia a opção do suporte pago, que mesmo sendo em dolar, era mais barato que uma versão registrada do software proprietário mais popular. Com documentação localizada para o português e direito a suporte via e-mail. Inexistente na opção proprietária!
Em relação a preços, se somar o preço da licença do sistema operacional proprietário mais popular com o pacote de escritório proprietário mais popular com um sistema anti-vírus (sem nenhum suporte incluído) você vai pagar 70% do preço de uma máquina de configurações intermediárias!
O custo/benefício de soluções baseadas no paradigma FLOSS é claramente mais favorável do que aquele baseado em soluções proprietárias!
Conclusões Pessoais
Usuários médios, avançados ou iniciantes estarão bem servidos se escolherem plataformas livres. Para um usuário iniciante (primeiro micro) a curva de aprendizagem é igual ou mais suave que soluções proprietárias.
Do Edgy Eft