Conto Mínimo 02
Uala era um típico cara comum. Acordava após o décimo alarme do despertador e levantava após o décimo-quarto. Arrastava-se em semi-sono até o banheiro, onde uma ducha fria colocava-o em estado de alerta. Gastava 60% dos seus 10 minutos para se arrumar, procurando duas meias do mesmo par. Outros 20% com a substituição do material que levaria na mochila surrada. O tempo restante para, digamos assim, vestir-se para mais um dia de trabalho e escola.
Mas naquele 11 de setembro ele achara, nos seus pertences, logo de manhã, um guardanapo de bar ainda amassado e engordurado com nome, telefone e, algo que parecia, marca de batom.
Embora não conseguisse lembrar de nenhum dos três (nome, telefone e marca de batom), resolveu ligar para "P.E.", enquanto se sacudia dentro de um trem lotado, a caminho do trabalho. Após ficar sabendo que o bilhete era de sua colega tímida de faculdade e já existia há 5 dias, contentou-se em saber que P.E. trabalhava no mesmo prédio que ele e que no horário do seu lanche (15min) daria uma fugidinha para entregar-lhe o bilhete de volta.
Nos 12 minutos e 30 segundos de conversa que tiveram inicialmente resolveram realizar um ato extremista. Não voltaram para os seus respectivos postos de trabalho e não viram, ao vivo, as cenas históricas daquele dia. Mas tiveram momentos históricos em suas vidas pessoais e convenhamos, às vezes, é isso que realmente importa.