Introdução
Após a leitura do excelente artigo sobre a Web 2.0 no Carreira Solo fiquei pensando em como esse novo paradigma pode impactar a educação de um modo geral, e em particular, a educação mediada por tecnologias de informação e comunicação (as TICs). Quis pensar isto, junto com outros educadores (ainda estou aguardando!), que já estão há mais ou menos tempo trabalhando e refletindo sobre os uso das TICs em educação, não só para qualificar o texto, mas sobretudo, para já pensá-lo e/ou escrevê-lo dentro deste novo paradigma, isto é, utilizando ferramentas de colaboração baseadas na web (web 2.0!). Este texto pode ser considerado como um primeiro esforço coletivo, de documentar idéias na medida em que estamos travando contato com elas e ao mesmo tempo implementando-as. Um esforço dialético de quem está no olho do furacão de uma 3º (4º ?) revolução industrial.Mas, o que é Web 2.0 ?
Embora algumas pessoas rejeitem a nomenclatura Web 2.0 e outras ainda, não a considerem como um novo paradigma, entendo que estamos vivendo uma mudança não só nos aplicativos da internet, como na própria filosofia de como usamos e/ou entendemos a mesma. E embora não se possa definir objetivamente o que é a Web 2.0 podemos indicar algumas de suas características que no conjunto a definem (ainda que de modo subjetivo). Para resumir, vou colocar algumas destas características que foram compiladas pelo Marco Gomes no seu weblog:- Usuários produzindo conteúdo
- Quanto mais usuários melhor o serviço
- Aplicações ricas
- Valorização do conteúdo
- Conteúdo acessível para aplicações externas
- Integração de conteúdos em diversas aplicações (Marshup)
- Nova indexação das informações (folksonomia)
O que pode mudar (em educação) com a web 2.0 ?
O fení´meno da colaboração não é novo, remonta desde as primeiras manadas de homo sapiens se organizando colaborativamente como estratégia de sobrevivência, até os dias atuais com o fení´meno dos softwares livres ou de código aberto, agora como paradigma de produção e/ou distribuição de conhecimento. Entretanto, com o desenvolvimeto das redes telemáticas, da world wide web e mais recentemente da Web 2.0, temos a colaboração quase que como um lugar comum nas aplicações e atividades centradas na web. Mais que isso, temos agora as próprias aplicações na web e, elas mesmas, não são mais apenas disponibilizadoras de informação. Temos a tão sonhada mão dupla da comunicação, que potencializa as situações de aprendizagem/ensino. Então, podemos nos perguntar como esta colaboração sistêmica e estrutural vai mudar o modo como aprendemos e ensinamos? Quando as organizações e instituições de ensino vão incorporar este novo paradigma no seu cotidiano? Como os profissionais de educação que tentam construir pequenas contra-hegemonias locais podem ou poderão tomar vantagem destas novas possibilidades tecnológicas? As respostas não parecem óbvias, mas nem por isso devemos nos furtar de fazer estas perguntas (e tentar respondê-las).Possibilidades
É evidente que inúmeras possibilidades educacionais surgem na medida em que as aplicações migram de uma máquina (de uso individual) presa a um espaço físico, para aplicações que estão em todo o espaço-tempo e não mais localizadas num hardware particular. Desde o próprio laboratório de informática educacional tradicional que pode ser montado num novo paradigma (acesso remoto a um servidor de aplicações com terminais burros), até mesmo na descentralização mais radical do laboratório de informática. Pense nos notebooks do MIT, que não terão obrigatoriedade de vários aplicativos instalados localmente, pois poderão usar acessos remotos para as aplicações baseadas no paradigma da Web 2.0. Pense nos portifólios digitais de coletivos inteligentes que aprendem/ensinam em redes de colaboração. Pense em projetos de aprendizagem (ou de ensino) que poderão ser melhor e mais dinamicamente gerenciados por professores e/ou dinamizadores de aprendizagens, utilizando as ferramentas que existem (e que vão surgir) neste novo paradigma. A própria formação continuada de professores em grandes redes de ensino (estaduais, municipais, etc) que tenderão a ter custos diminuidos e alcançe ampliados com acessos (remotos) partilhados í s reflexões e produções de materiais instrucionais. Abaixo faz-se uma pequena descrição de cenários hipotéticos de algumas destas possibilidades.Produzindo material instrucional
Imagine que uma rede de ensino com centenas de professores (uma rede municipal, por exemplo) interessada em criar material instrucional para ser utilizado por seus alunos em versões digitais e em versões impressas. No paradigma tradicional de escrita destes materiais, um grupo muito pequeno produz o material, na maioria dos casos desconectada dos seu público alvo. Com as possibilidades da web 2.0, este mesmo material pode ser produzido por um número maior de professores, notadamente aqueles que irão utlizar o material, logo uma produção mais conectada ao seu público alvo. Com um número maior de professores produzindo o material, coletivamente, o tempo entre produção-refinamento-1º versão beta [1] tende a ser menor e com maior probabilidade pruduzir-se um material mais adequado ao público que se destina. Dadas as características da produção do material, versões impressas podem ser geradas somente na quantidade real de uso (o que é muito legal para o planeta e para adiminuição dos custos) assim como na hora que realmente forem utilizadas, fazendo com que se use sempre a versão mais recente da obra.Produzindo material em aula
Em ambientes colaborativos, a construção do material pode ser feita pelos próprios alunos e gerenciada e orientada pelos docentes. Isto é, aquela idéia familiar de educação centrada no ensino, dos alunos como "consumidores" do saber dos professores muda para uma educação centrada em aprendizagens, em solução de problemas reais, de se aprender somente o que é realmente necessário, aprendizagem por demanda! Em última análise, desenvolve-se mais as competências do que se transfere conteúdos didáticos. Esta possibilidade (maior) de descentralização das atividades de aprendizagem (frisa-se, não de ensino) se torna possível quando as aplicações não se encontram mais fixas num espaço-tempo (máquina na escola ou em casa, num certo horário) mas se encontram disponíveis, virtualmente, em todos os lugares e tempos para os alunos. Um hardware como os notebooks do MIT, permitiria que os estudantes possam, a partir de seus dispositivos portáteis, acessarem as aplicações que estão na Web 2.0 independente de onde eles possam estar com os seus hardwares, a qualquer tempo.Conclusão
Como procurei mostrar neste texto, ainda que não seja consenso que a web mudou de tal forma que mereça uma nova denominação, as novas aplicações que tem surgido, com uma certa velocidade, criam novas possibilidades para os processos e situações de ensino e aprendizagem. Possibilitam (ou forçam) a escola mudar o seu paradigma de funcionamento. De uma escola centrada no ensino para uma escola centrada nas aprendizagens. De uma escola transmissora de saberes socialmente valorizados para uma escola que desenvolve competências e produz saberes, igualmente valorizados, além é claro, de os transmitir. Uma escola (ou organização) que percebe a web como mais do que uma simples fonte de informação, que vislumbra a mesma como uma plataforma de aplicações e de colaboração descentralizada. Enfim, se percebermos esta nova (?) Web 2.0 teremos mais chances de alcançar os objetivos mais clássicos da educação escolar: formar cidadãos para a sua era, especificamente, a era da informação.Notas
- Neste novo paradigma versões finais podem nunca existir, pois a evolução é permanente.
4 comments
Comment from: Marco Gomes
Comment from: oigreslima
Opa Marcos!
Eu é que agradeço pela excelente síntese do conceito de WEB 2.0
Comment from: Aprendendo em Redes de Colaboração
Recebi meu Notebook e agora o que faço com ele?...
Você é um professor que acabou de receber seu notebook. Passado o deslumbramento inicial (ou mesmo não tendo passado ainda!) é hora de se perguntar: Como esta máquina pode melhorar o meu trabalho docente?
Obviamente que não existem respostas def...
Comment from: ok
good site tzmflh
boo!
Excelente post! Pode ser considerado um artigo de referência pra outros trabalhos sobre educação. Obrigado pelo link.
from Brazil, Marco Gomes
CTO of the boo-box team
http://boo-box.com