Cada vez mais me convenço que aprender é mais importante que ensinar, nas nossas escolas! E não vai aqui nenhuma arrogância nisto!
Quando digo que aprender é mais importante que ensinar (na escola), não estou dizendo que devemos parar de ensinar! Esta é uma interpretação tola.
Créditos da Charge: Bichinhos de Jardim
Estou dizendo que no processo de aprendizagem-ensino (não ensino-aprendizagem, pra ser bem Foucaultiano) o foco deve estar naquele que está aprendendo. No que ele precisa aprender, com base em seus gostos e aptidões. Nem todos precisam saber a transposta de uma matriz! Nem todos precisam saber orações coordenadas assindéticas ou transformações adiabáticas e todos os demais "enciclopedismos" dos nossos currículos escolares!
Obviamente que conciliar o que os alunos deveriam aprender com uma educação de massa, eficiente e de qualidade é o nosso grande desafio (educadores, gestores e acadêmicos).
Há algumas sugestões óbvias e ululantes! Diminuir a relação número de alunos para cada professor. Esta sugestão óbvia me ficou mais clara quando na palestra do Prof. Thadeu Penna no dia Debian de 2009 ele citou o fato (careço de dados) de que a educação fundamental e a pós-graduação não são os problemas no Brasil.
O gargalo da nossa educacão está no segundo segmento do fundamental (antigo ginásio ou 5o a 8o séries do primeiro grau) e no ensino médio (antigo 2o grau).
Nestes dois segmentos é onde o professor atende a um número enorme de alunos, numa "educação" em ritmo de "fábrica". Quase sempre numa lógica de horas de aulas, que faz com que a maior parte desses professores trabalhem em várias escolas e não vivenciem, intensamente, nenhuma delas!
(...)
Mas, você leitor, já deve está se perguntando porque estou pensando escrevendo sobre isto agora? Por dois motivos: 1) Este é o "demônio" que me assombra ultimamente! 2) as evidências experimentais parecem corroborar minha hipótese de que ensino não deve se sobrepor a aprendizagens :-)
E como apontado (link) na matéria acima, um dos subprodutos da ênfase no ensino, mais nocivos a aprendizagem nas Escolas, é a paranóia por avaliações padronizadas, notas e rankings!
Taí a nota do ENEM, que por questões estatísticas básicas, não deveria ser tomada como ranking de qualidade de educação (ou ensino) e é "macaqueada" aos quatro ventos por escolas e gestores educacionais!
(...)
Eu tenho três filhas que aprendem de modo, tempos e ritmos diferentes! Por isto quando vou estudar matemática com uma faço de modo diferente do modo que faço com as outras!
Por que com os meus 160 alunos (sim eu sou um professor de ensino básico felizardo, muitos dos meus colegas atendem a 400 ou mais alunos) eu devo pressupor que todos devem aprender do mesmo modo, no mesmo tempo e as mesmas (muitas) coisas?
Será que um aluno que não consegue aplicar o princípio da inércia numa situação cotidiana estaria menos preparado para a vida cidadã ou para o mundo do trabalho?
E para complicar, como mensurar a qualidade da educação que estamos praticando nas nossas escolas se os alunos pudessem flexibilizar os seus próprios currículos?
A única conclusão, provisória, que chego é que em tempos de abundância de informação, compartilhamento e colaboração ainda ensinamos e avaliamos como se estivéssemos na Era Industrial!
[Atualização]
As conversações me levaram a revisitar o excelente texto do Prof. Novelino: Ensinar não é crime. Leitura obrigatória! E engraçado que relendo o texto agora, com um certo distanciamento da primeira leitura, fiquei mais ainda convencido dos argumentos do Prof. Novelino. Legal isto!
Vale muito a pena, também, ler este relato sobre "ensino"!
[/Atualização]