[Aviso]
Este é um texto focado exclusivamente em meu contexto de trabalho. Na verdade, um documento que fiz ao decidir não acompanhar uma deliberação de assembléia e retornar ao trabalho. Se educação e/ou organização de trabalhadores (da educação) não é do seu interesse, pule esta entrada e vá para a próxima no seu leitor de feeds ou mesmo neste blog!
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5 Motivos Para *não* Acompanhar a "Unidade-de-não-Ação"
do Movimento dos Trabalhadores do Colégio Pedro II
"Quantos defeitos que foram sanados com o tempo era o melhor que havia em você ..."
(Oswaldo Montenegro)
Por Sérgio F. Lima [1] - oigreslima @ gmail.com
Resumo pra quem tem preguiça de ler textos longos
Há muito que o chamado "Movimento dos Trabalhadores da Educação" sofisma que a greve é uma forma adequada de luta (para os Trabalhadores da Educação), que a greve mobiliza os trabalhadores da educação, que a greve pressiona o governo, que a greve é nossa Única forma de luta, etc... Mas vejamos os fatos: a atividade de rua do dia 01/06/2006 tinha apenas uns 80 gatos pingados (alunos não foram contabilizados por motivos óbvios!) em cerca de 1500 trabalhadores em greve; É uma regra deplorável que, encerrada a votação greve x não greve, 80% da plenária abandona sistematicamente a assembléia dos servidores (independente do resultado da votação); É fato que, nos últimos 5 anos, os comandos de mobilização ou de greve nunca passam de 50 pessoas em 1500 grevistas, a despeito da maioria dos servidores cumprirem a greve em casa ou em escalas no local de trabalho.
É fato que, ao longo dos últimos 10 anos, as greves duram cada vez mais para obter cada vez menos (hoje se faz greve para se cumprir acordos da greve!), etc...
Tendo em vista que os objetivos do movimento foram atendidos: Cumprimento do acordo em relação aos docentes e envio de medidas provisórias em relação ao acordo com os técnicos administrativos...
Entendo que continuar "parado em casa" não mobiliza, não pressiona Governo e, pior de tudo, não defende a mítica Escola Pública de Qualidade... a "greve em casa" da maioria dos servidores só reforça a *Ética do não trabalhar*...
Tendo tudo isto em vista, eu elenco abaixo, 5 motivos que me levaram a retornar às minhas atividades docentes (em 06/06/2006) a despeito da decisão da Assembléia dos Servidores de continuar em greve!
Texto longo pra quem já descobriu que o mundo real É complexo
Os Motivos:
Motivo 1
O principal motivo da greve de 2006 era o cumprimento do acordo de 2005 para docentes e tÉcnicos-administrativos. A medida provisória MP 295 [2] atende a esta reivindicação. É notório também que em nenhum momento o governo afirmou que não cumpriria o acordo assinado, ainda que não o tivesse implementado. E, a bem da verdade, é necessário que se diga que no acordo assinado entre Sinasefe e MEC (vide versão disponível no sítio do sinasefe [3]) não há uma data definida para o cumprimento dos 12% de reajustes (sic) dos docentes! Há apenas a exigência que seja em 2006! Portanto, retornar ao trabalho não impede ou enfraquece nenhuma negociação dos trabalhadores da educação frente ao Governo atual.
Motivo 2
A lógica de qualquer movimento social organizado e consistente, é primeiro organizar o movimento e somente depois atuar sistematicamente na construção dos seus objetivos. No Colégio Pedro II, há uma inversão desta premissa básica! Primeiro se entra em greve só depois se discute os seguintes fatos: Servidores assinam ponto, servidores somem da escola, servidores acompanham o movimento pelo telefone, servidores não participam das atividades do movimento, servidores não conhecem a pauta de reivindicação, etc...
A despeito disto, se insiste na greve como Única forma de luta, mesmo não existindo traços de organização ou consciência da necessidade de ação. Ao contrário, a regra é a apatia política dos servidores da educação! Insistir nesta "greve em casa" da maioria dos servidores do ColÉgio Pedro II é colaborar pelo esvaziamento/distanciamento crescente dos trabalhadores das suas entidades de classe.
Todos estes fatos ocorrem a despeito do enorme esforço daqueles que militam em direções de entidades e/ou comandos de mobilização! Estes fatos são sintomas de diversos fatores que não são simples de serem analisados e/ou resolvidos. Nem são o objeto de análise deste documento!
Motivo 3
Na assembléia do dia 05/06/2006 foi afirmado por um dirigente nacional do sinasefe que não É responsabilidade do movimento se vários servidores fazem greve com assinatura de ponto e escala de trabalho. Afirma ainda, que a responsabilidade é das direções de unidades! Como um movimento se diz organizado, se os problemas éticos do movimento não são de sua responsabilidade? Permanecer nesta "unidade de não ação" é concordar com esta lógica de negação da realidade! O que há de ruim no movimento não é responsabilidade do movimento!
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3 comments
Comment from: Gal
Comment from: rita
A verdade é...chega de pedir esmolas.
Comment from: OZIMAR
GOSTARIA DE RECEBER ULTIMAS INFORMAÇÕES DAS LUTAS QUE A EDUCAÇÃO BUSCA PARA SUA MELHORIA
Prezado Sérgio: Por acaso me deparei com seu blog na internet e o li com atenção. Sou professora do Pedro II também, unidade Humaitá II e achei legal ter lido suas reflexões porque começo a concordar com vc. Sempre achei que "greve de pijama" funciona muito pouco. Porém há apenas uma questão que ficou martelando na minha cabeça: porque vc não coloca estas questões na assembléia? Acho que, mesmo que as falas sejam apenas de 3 minutos, é o espaço que temos para nos manifestar como grupo, como categoria. E garanto que muitas pessoas pensam como vc, mas não têm coragem ou clareza para se colocar. Eu, mesmo tendo minhas dúvidas e questionamentos sobre a greve, me mantenho nela por pensar como categoria. Se a minha categoria está em greve, como serei eu a furá-la? Se mais pessoas que discordam da greve participassem da assembléia e dessem seu voto contrário, provavelmente já teríamos saído dela. E, com um porta-voz, que traz motivos claros e lúcidos, já estaríamos de volta ao trabalho. Mas o motivo que mantém as pessoas em greve, mesmo não concordando muito, é porque ainda acham que as reivindicações e o movimento são legítimos. Enviei seu texto para vários colegas meus porque acho que está na hora de pensarmos com uma lógica diferente.