Introdução
"Ideia de jerico": " é uma expressão popular usada quando determinada pessoa tem uma ideia absurda ou má."
11 em cada 10 ignorantes sobre educação, deslumbrados com tecnologia ou vendedores de soluções "online" advogam que é a tecnologia que pode resolver (por si só) problemas educacionais... Sim Abraham Weintraub, estou olhando para você!
Deixe eu contar uma coisa:
"Ambientes virtuais de aprendizagem são inevitavelmente projetados com um modelo pedagógico em mente que normalmente não é explicitado" ([(BRITAIN & LIBER:1999)](http://www.leeds.ac.uk/educol/documents/00001237.htm "Fonte original"))
Não tenho esperança que o Weintraub entenda isso! Mas você, caro leitor, sei que vai pegar a ideia! O pedagógico antecede a tecnologia! Digo mais: o contexto informacional, social e afetivo antecedem a tecnologia!
Escola é um espaço de aprendizagens! Não é um espaço somente de exposição de conteúdos educacionais! Gravar exposição de conteúdos educacionais não é educação nem substitui as aulas presenciais na escola básica!
Faz parte das experiências de aprendizagens, na Escola, conviver com visões de mundo diferentes, exercitar a empatia, o convívio com o diferente... Por isso "aulas online", na escola básica, é péssima ideia do ponto de vista de quem aprende a menos tempo (os estudantes, segundo Vygotsky)!
Do ponto de vista de quem está aprendendo há mais tempo e que cria situações de aprendizagem (por exemplo, aulas presenciais) mudar a perspectiva do espaço presencial para o espaço online implica: capacitação docente, pesquisa sobre o público, ferramentas, tecnologias e apoio de todo um conjunto de profissionais (designs, ilustradores, editores de vídeo, diretores de arte, suporte técnico, etc)... Não é uma tarefa trivial quando se pensa em educação de qualidade!
Do ponto de vista do "ecossistema tecnológico" necessário para que as coisas funcionem é necessário infraestrutura tanto por parte dos estudantes (conexão regular, dispositivos compatíveis, etc) quanto por parte dos professores e instituição!
Portanto, esta modalidade vai contra o que preconiza nossa Constituição em seu artigo 206 Incisos I e VII:
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
VII - garantia de padrão de qualidade.
Sem jurisdiquês e em bom português: Esta estratégia além de fortemente excludente é inconstitucional!
E nem vou entrar na seara de capacitação docente, fornecimento de infraestrutura e saúde dos professores!
Diálogos e Possibilidades
Descartando as "aulas online" pelos motivos expostos anteriormente e mesmo as abordagens mais sérias de EAD (EAD é maior e mais abrangente que "aulas online", ok?) ficamos ainda com a questão: o que professores/escolas/estudantes/responsáveis podem fazer neste momento de pandemia?
Pessoalmente, defendo diálogo e experimentações horizontais facultativas!
Diálogo no sentido de que nada pode ser definido de cima para baixo. Nada de gestor baixar portaria obrigando que profissionais de educação realizem tarefas para as quais não tem formação ou interesse (aulas online, produção de listas, orientações, etc)!
Aqueles profissionais, que desejarem, podem elaborar/dispor/compartilhar recursos educacionais (com ou sem mediação assíncrona e a distância) para que estudantes, que queiram, possam usar seu tempo ocioso para estudar durante este período!
O fato de alguns estudantes se interessarem (e possuirem as condições materiais para acessar tais materiais) não configura aula dada! Não estarão (nem os professores que dispuseram facultativamente o material) dispensados de, no retorno às aulas, seguirem o mesmo calendário escolar!
Vivemos um momento atípico! Não devemos homogenizar como cada profissional de educação vai lidar com a situação! Alguns poderão ter que cuidar de parentes ou de si mesmos, outros poderão, legitimamente, ocupar-se com outras tarefas... e alguns, para sua própria sanidade mental, desejarão produzir materiais de apoio de modo não formal!
Isto não configura EAD nem obriga que todos tenham que agir do mesmo jeito! Sim, há aqueles que "satanizam" quem quer produzir material neste período!
E finalmente, terminado este período de quarentena, deve-se dialogar com a comunidade escolar sobre a melhor forma de se atender a legislação sobre o número mínimo de dias letivos, no melhor espírito ganha-ganha.
EAD/Ensino Híbrido - Alguns paradigmas para um eventual plano B
Ok e se a quarentena precisar durar muito tempo? O que poderia ser feito a respeito?
Pessoalmente acredito que, no nível superior, abordagens de EAD pensadas e planejadas colocando-se o pedagógico a frente do tecnológico e, levando-se em conta o perfil tecnológico do estudante médio brasileiro, podem ser implementadas com grandes chances de minimizar os prejuízos de um longo período sem aulas presenciais! E, com escolhas tecnológicas corretas, talvez possa funcionar, também, no ensino médio! E sim, não há a menor chance de aplicarmos EAD no ensino fundamental e nos anos iniciais do ensino fundamental.
Para os mais céticos com a EAD, todos os argumentos elencados acima (e abaixo), podem ser aplicados, no retorno das aulas, numa pegada de Ensino Híbrido!
E, mais importante e tudo! Caso se adote EAD ou Ensino Híbrido, não vamos reinventar a roda, nem gastar dinheiro público com as gigantes da internet (estou olhando para você google!). Já existe, no setor público, muito conhecimento acumulado! Tanto nas universidades públicas, quanto em iniciativas públicas com bastante expertise em EAD, para citar apenas duas: UAB e CECIERJ!
O que são escolhas tecnológicas corretas? Que paradigmas tecnológicos deveriam ser adotados? Sem maiores discussões, para este texto não ficar excessivamente longo, vou enumerar abaixo as minhas opiniões (são opiniões, não receitas ou verdades, ok! Pode guardar as pedras :-)):
Paradigmas "Pedagógicos-Técnicos" para um "plano B" de uso da EAD ou Ensino Híbrido para "minimizar os prejuízos de uma quarentena muito longa
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Aqui uma interessante discussão sobre como o ensino superior (pessoalmente acredito que algumas ideias valem para a escola básica) poderia aproveitar esta crise (coronavírus) para se reinventar!
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- Cursos baseados em texto e somente com as mídias (figuras em detrimento de vídeos) minimamente necessárias - Eu descarto vídeo aulas por motivos técnicos [não haverá disponibilidade de banda nem para as instituições de ensino (alto tráfego) nem para uma grande parte dos estudantes (banda larga não é universal no Brasil)]
- Minimalismo Tecnológico e padrões abertos - Um curso usando listas de discussão por e-mail e um blogue ou wiki de referência pode ser muito mais acessível e fácil de implementar e treinar os professores, do que usar plataformas de EAD ou pior, plataformas proprietárias das gigantes da internet!
- Cursos Colaborativos - Taí uma chance para superarmos o modo tradicional com que os professores trabalham (sozinhos cada qual fazendo o seu planejamento individualmente, na maior parte dos casos) para uma perspectiva em que aprendemos a trabalhar em redes colaborativas, isto é, de professores conectados!
- Experimentar uma perspectiva conectivista de educação. A ideia aqui é estender o conceito de aprendizagem sócio-interacionista do Vygotsky para incluir os avanços tecnológicos: Aprende-se na interação daqueles que estão aprendendo há mais tempo (professores) com aqueles que estão aprendendo a menos tempo (estudantes), o conhecimento se encontra, também, em dispositivos e sistemas!
É uma tarefa fácil? Definitivamente não! Mas é melhor usar este momento de crise para se produzir disrupções na escola do que tentar reproduzir as mesmas práticas da era industrial - que já sabemos estão caducas - com verniz de tecnologia e modernidade!
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Para aqueles profissionais de educação interessados num curso aberto massivo gratuito e online sobre EAD este aqui (https://moocead.net/) com duração de 12 semanas (iniciou em 20/03/2020) pode ser uma boa opção!. Eu [fiz este curso em 2012](http://sfl.pro.br/blogs/ticseducacao/primeiro-curso-aberto-massivo-e-online-sobre-ead "Curso que fiz em 2012"). Aqui o Currículo Vitae do curador/dinamizador/coordenador do curso! Recomendo! Tenha em mente que um curso aberto e massivo requer bastante foco dos alunos!
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